o mecanismo da função sexual
Introdução
Muito se fala sobre a função sexual humana, mas nem sempre algo que corresponda aos reais achados científicos. Aqui está um resumo simplificado, em linguagem não acadêmica, para que seja de fácil compreensão pelo público em geral.
O modelo apresentado baseia-se no “Ciclo Psicossomático da Resposta Sexual”, descrito por John Bancroft (in Human Sexuality and Its Problems, 3rd ed, 2009). Este médico escocês propõe o entendimento da resposta sexual a partir de um substrato neurofisiológico em integração com as respostas genitais, os processos cognitivos e os estados emocionais.
Para fins didáticos, os textos a seguir apresentam o mecanismo da função sexual humana sistematizado em suas três fases: desejo, excitação e orgasmo.
O Desejo
O despertar do interesse por sexo
O cérebro é o grande controlador da função sexual. Existem nele regiões específicas – os centros sexuais cerebrais – que podem ser ativados ou inibidos, de acordo com a influência de diversos fatores.
Quando os centros sexuais cerebrais são ativados, sentimos despertar em nós o interesse por sexo, o “apetite”, o desejo sexual.
ESTÍMULOS SEXUAIS
O desejo sexual pode ser despertado de várias maneiras: por meio de olhares, de cheiros, de toques e carícias, de um corpo atraente, de uma postura sedutora, ao ouvir alguém dizer que gosta da gente, através de uma conversa provocante, e outras coisas mais.
Estes são os chamados estímulos sensoriais, isto é, estímulos externos que são captados pelos órgãos dos sentidos (visão, olfato, audição, tato, paladar).
O efeito destes estímulos nos centros sexuais do cérebro depende:
• de sua intensidade e duração;
• do grau de percepção das sensações corporais que eles provocam;
• da capacidade de concentração.
A função sexual também pode ser ativada através de estímulos mentais internos, produzidos pela própria imaginação: são os pensamentos, lembranças, fantasias ou sonhos.
DO QUE A MENTE É CAPAZ – APRENDIZADO
A interpretação de estímulos sexuais como bons ou ruins depende muito do que aprendemos sobre a sexualidade ao longo da vida.
O aprendizado de valores morais e religiosos, de tradições culturais, o conhecimento e as informações, exercem poderosa influência sobre a forma como respondemos aos estímulos externos, e sobre o quanto desenvolvemos o imaginário interno.
Na nossa cultura, os homens geralmente aprendem que sexo é bom, agradável, dá prazer, portanto tendem a ser mais receptivos aos estímulos sexuais e a ter a imaginação mais “fértil”.
Muitas mulheres, ao contrário, ainda são ensinadas que sexo é algo feio, sujo, proibido, pecaminoso, ou que é nada mais que uma “obrigação do casamento”, por isso às vezes têm a tendência a trancar o corpo e a mente frente a coisas que signifiquem sexo.
O PODER DAS EMOÇÕES
Nossa sexualidade é ainda fortemente influenciada pelas emoções e sentimentos.
Sentimentos de amor, paixão, confiança, segurança, estado emocional equilibrado e auto-estima em alta, logicamente favorecem o fluxo natural do sexo.
Já o medo, a ansiedade, a raiva, mágoa, depressão, ou até mesmo a vergonha funcionam como potentes inibidores da função sexual.
O DIA-A-DIA
Fatores externos determinantes do dia-a-dia também podem interferir na vida sexual. Nem sempre sentimos desejo quando o cansaço fala mais alto ou quando a vida não vai lá muito bem.
É natural que se fique com menos disposição para o sexo quando existem preocupações financeiras, problemas com filhos, encrencas no emprego, e outras perturbações.
Convém lembrar que um ambiente adequado, com privacidade e aconchego, pode ajudar a dissipar as tensões cotidianas.
“Se as coisas não vão bem na vida, fica difícil ir bem na cama.”
A COMUNICAÇÃO
Fundamental também é um bom papo entre os parceiros, para que cada um conheça as preferências e necessidades do outro. Afinal, ninguém tem “bola de cristal” para adivinhar o que se passa na cabeça alheia.
E A SAÚDE, VAI BEM?
Se o estado geral de saúde estiver em forma, tudo fica bem melhor.
Doenças, distúrbios, stress, efeito de álcool, drogas ou medicamentos podem atrapalhar a resposta sexual.
A Excitação
As respostas sexuais
Quando os centros sexuais do cérebro são ativados, tem início uma série de modificações em nosso corpo, destinadas a prepará-lo para exercer a função sexual.
Estas modificações são acompanhadas de sensações subjetivas típicas, percebidas como excitação sexual.
Quanto mais eficientes os estímulos, mais expressivas e mais intensas serão as reações corporais.
O mecanismo básico das respostas corporais à estimulação sexual é o aumento da irrigação sanguínea nos órgãos que terão um papel especial a desempenhar nesse momento.
AO SABOR DA EXCITAÇÃO:
• o coração bate mais depressa;
• a respiração fica mais rápida;
• a pele fica quente e vermelha;
• às vezes sentimos arrepios;
• as pupilas dilatam;
• os músculos ficam mais tensos;
• toda a sensibilidade fica mais aguçada;
• as mamas incham e os bicos dos seios endurecem.
Nossos órgãos genitais também se modificam quando recebemos estímulos sexuais.
NO HOMEM:
• o pênis se enche de sangue e fica duro: é a ereção do pênis;
• a cabeça do pênis (glande) fica mais escura;
• a pele do saco escrotal engrossa e ele se retrai;
• os testículos incham, e vão aumentando de volume;
• a uretra solta uma secreção de lubrificação.
NA MULHER:
• a vagina fica úmida, isto é, se lubrifica;
• o clítoris e os pequenos lábios incham e mudam de cor, ficando mais escuros;
• a porção inicial da vagina também fica mais inchada e mais sensível;
• a parte profunda da vagina se alarga, provocando o “efeito balão”.
Todas estas reações vão sendo mais intensas à medida em que mais estímulos vão sendo oferecidos.
Lembretes importantes:
As reações de excitação sexual na mulher costumam ser mais lentas do que no homem, o que explica o fato da mulher geralmente necessitar de mais estímulos para se excitar.
A tentativa de iniciar uma relação sexual antes que ambos estejam devidamente preparados resulta em desconforto e desprazer, tornando-se mais difícil obter níveis adequados de excitação.
A ansiedade para obter a excitação, bem como a falta de concentração nos estímulos e nas sensações podem atrapalhar o mecanismo de excitação.
Explorar nosso próprio corpo e o do outro nos possibilita descobrir quais as áreas mais sensíveis, o que agrada e dá prazer.
O Orgasmo
As sensações do momento
Quando atingimos um determinado grau de excitação sexual, considerado máximo para aquela ocasião, é como se o corpo pedisse um “alívio” para aquela tensão gostosa que veio crescendo na fase de excitação.
Pode, então, ocorrer o orgasmo, que é um reflexo caracterizado por reações corporais específicas e por sensações subjetivas de prazer, satisfação e bem-estar.
As sensações no momento do orgasmo podem ser extremamente variáveis, como ondas de calor subindo da pelve para todo o corpo, aperto na garganta, arrepios, tremores, etc.
Os órgãos genitais têm reações específicas:
No homem ocorrem contrações rítmicas e involuntárias dos músculos da pelve, levando ao fenômeno da ejaculação, que é a expulsão do sêmen.
Na mulher, ocorre inicialmente um espasmo e a seguir uma série de contrações vaginais, também rítmicas e involuntárias (usualmente 5 a 8 contrações).
O clítoris é o “gatilho” do orgasmo feminino. As mulheres precisam de estimulação clitoriana (direta ou indireta) para atingir o orgasmo.
No orgasmo feminino não há um fenômeno como a ejaculação do homem; a mulher não elimina nenhum líquido durante o orgasmo. A mulher pode ter orgasmos múltiplos, isto é, mesmo após ter acabado de atingir um orgasmo, se ela for adequadamente estimulada pode atingir um outro, e outro ainda.
Já o homem, depois que ejacula passa por um período de “repouso” (período refratário); isto quer dizer que neste período, mesmo que ele seja estimulado, não consegue ter outra ereção nem outra ejaculação. Isto pode durar desde minutos até horas, variando muito de homem para homem.
O orgasmo de cada um é diferente. Às vezes, o momento do orgasmo é suave e tranquilo, outras vezes é uma série de movimentos agitados. Algumas pessoas gostam de falar, gemer ou gritar.
Nem sempre duas pessoas chegam ao orgasmo ao mesmo tempo e o prazer que se tem com o sexo varia muito de uma pessoa para outra, e varia também na mesma pessoa, conforme a ocasião, o dia ou a hora.
O que se sente durante o orgasmo depende ainda do estado emocional. A sensação de prazer provavelmente será mais intensa quanto mais positivas forem as emoções vividas no momento.
Pode ser também que algumas vezes o orgasmo não ocorra, mas só o fato de estar junto e ter intimidade sexual pode dar muito prazer.
O orgasmo não é uma obrigação, nem uma meta a ser alcançada a qualquer custo. É apenas a consequência natural de uma atividade sexual praticada de maneira gostosa e relaxada.
Desfrutar do sexo é uma arte que requer prática e habilidade.
É com o tempo, a experiência e o interesse que se descobre o jeito mais gostoso de transar.