DIVERSIDADE SEXUAL
As múltiplas faces da sexualidade humana
A sexualidade humana se constitui a partir de componentes biológicos, psicológicos e socioculturais, todos interligados entre si.
A combinação desses fatores pode ser múltipla e diversificada, resultando em diferentes existências, vivências, sentimentos e expressões da sexualidade de cada indivíduo.
COMPONENTES BIOLÓGICOS
Do ponto de vista biológico, temos indivíduos que, ao nascer, apresentam genitália externa feminina ou masculina, isto é, têm vulva/vagina ou pênis/escroto. Porém, há outros componentes que determinam o sexo biológico de um indivíduo: a genitália interna (não visível ao nascimento), o sexo cromossômico, o sexo gonadal (presença de testículos ou ovários), o sexo hormonal, os caracteres sexuais secundários (desenvolvidos na puberdade, como pelos, mamas, voz, etc.), além de elementos do sistema nervoso central (componentes cerebrais) ainda não muito bem conhecidos.
Podemos então dizer que, do ponto de vista biológico, temos indivíduos que nascem “machos” ou “fêmeas”; quando há algum problema no desenvolvimento embrionário e a genitália interna e/ou externa não se desenvolve em conformidade com os demais componentes biológicos, temos os indivíduos chamados de intersexo, ou seja, com uma genitália não perfeitamente definida. Para esses casos, é necessária uma extensa investigação médica multidisciplinar para orientar o tratamento para cada caso em sua particularidade.
O sexo biológico não determina a identidade e expressão de gênero de uma pessoa e tampouco define sua orientação sexual.
COMPONENTES PSICOLÓGICOS
Com relação aos componentes psicológicos da sexualidade, podemos falar em identidade de gênero e orientação sexual.
A identidade de gênero diz respeito à percepção íntima que uma pessoa tem de si mesma como sendo do gênero masculino, feminino ou de alguma combinação dos dois, independente do sexo biológico. É como a pessoa se descreve e como deseja ser reconhecida quanto à sua sexualidade.
Temos, assim, pessoas chamadas de cisgêneros (pessoas cuja identidade de gênero está alinhada ao seu sexo biológico) ou transgêneros, que incluem transexuais e travestis (pessoas cuja identidade de gênero é oposta ao seu sexo biológico ou cuja identidade transita entre os gêneros, respectivamente).
A identidade de gênero é estabelecida até os três anos de idade e considerada imutável a partir de então. Em outras palavras, as pessoas não “resolvem mudar de sexo” sem mais nem menos. Em algum momento da vida, elas descobrem sua condição e buscam uma adequação biológica, psicológica e sociocultural à sua sensação interna de identificação com um determinado gênero.
A orientação sexual refere-se à atração afetiva e/ou sexual que uma pessoa sente em relação à outra, isto é, a quem seu desejo se direciona involuntariamente. Podemos falar em três principais tipos de orientação sexual:
Heterossexual – quando a pessoa se sente atraída afetiva e/ou sexualmente por pessoas do sexo/gênero oposto
Homossexual – quando a pessoa se sente atraída afetiva e/ou sexualmente por pessoas do mesmo sexo/gênero
Bissexual – quando a pessoa se sente atraída afetiva e/ou sexualmente por pessoas de ambos os sexos/gêneros
É importante ressaltar aqui que não se usa o termo “opção sexual” por não se tratar de uma “escolha”. A pessoa descobre seu tipo de atração e decide se vai ou não vivenciá-la. O comportamento é uma escolha, a natureza do sentimento é involuntária.
A orientação sexual de uma pessoa não pode ser presumida a partir de sua expressão de gênero, isto é, da forma como ela se apresenta socialmente, sua aparência ou suas atitudes. A menos que revelada ou publicamente exposta, é uma forma particular de vivência da sexualidade, nem sempre dentro dos estereótipos supostos pela sociedade menos informada.
COMPONENTES SOCIOCULTURAIS
Entre os componentes socioculturais da sexualidade, incluímos a expressão de gênero e o sexo civil.
A expressão de gênero é construída ao longo da vida de cada indivíduo, de acordo (ou não) com as determinantes de sua cultura e sociedade. Refere-se à forma como a pessoa manifesta publicamente sua identidade de gênero, seja por meio de seu nome social, da vestimenta, do corte de cabelo, de características corporais ou de atitudes e comportamentos. A expressão de gênero nem sempre corresponde ao sexo biológico da pessoa e também não é suficiente para identificar sua orientação sexual. É apenas uma forma de existir no mundo, em conformidade às suas tradições ou em protesto a elas.
Por fim, o sexo civil, é o primeiro que nos é atribuído e que consta em nossa certidão de nascimento como “masculino” ou “feminino”, baseado apenas em um único elemento da sexualidade, que é a aparência da genitália externa. Como vimos, um elemento pouco determinante daquilo que poderá ser a vivência de nossa sexualidade ao longo da vida.
Um olhar abrangente e cientificamente embasado sobre a sexualidade humana é fundamental para que se conheça seus vários componentes e para que se compreenda suas diferentes condições e expressões, de forma isenta de julgamentos, preconceitos e discriminações.